segunda-feira, 7 de março de 2011

Dragões de Éter – Corações de neve

Capítulo 27
 “Snail Galford entrou no local com mais dezessete jovens que haviam escutado sua história e se inspirado para estarem ali. (...)
 - A comida está ficando escassa para esse pessoal – disse Liriel, preocupada.
 - Aumente o grupo responsável pelos alimentos. Escolha os mais rápidos, de mãos leves.
 - E depois?
 - Dê a eles um título. Chame eles de ‘capitães de areia’ ou qualquer coisa do tipo e elogie o trabalho deles, se for bem-feito. Mas elogie pouco.
 - Não sabia que gostava de elogios.
 - Eu não gosto.
 - Você fala como se tudo fosse tão simples! Você já imaginou se pegam algum desses meninos e ele conta o que está acontecendo neste galpão? Seríamos exterminados no dia seguinte.
 - Quem quer que seja apanhado não contará.
 - Como sabe? Eles são crianças!
 - Eles são soldados.
 - Eles são seres humanos.
 - Não, eles são órfãos. Você sabe o que isso significa?
 - ...
 - Não importa se você viu seu pai morrer, como eu vi o meu também, Gabbiani. Esses garotos simplesmente não viram o pai morrer, porque a maioria deles não conheceu os pais! Ou, se conheceram, já passaram tempo demais sozinhos para se lembrar como eram. Além disso, devido à visita de estrangeiros do mundo todo, Andreanne vai se utilizar da política de esconder seu lico durante o período do Punho de Ferro. Acredite, soldados têm ordens de desaparecer com a população de rua e trombadinhas em atividade durante esse período, o que faz deste lugar um local de refúgio perfeito para a própria segurança desses meninos. Logo eles mesmos estarão vindo até nós sem que precisemos nem mesmo convocá-los.
 - ...
 - E a dor que fica dentro do coração de pessoas como essas é poderosa. Se não for moldada, ela vira ódio, e logo você tem formado um Coração-de-Crocodilo, que Aramis o tenha! Mas basta uma centelha, uma única centelha, e você a canaliza para uma energia poderosa o suficiente para destruir exércitos.
 - Ainda assim, Galford! Eles são crianças, que não conseguirão resistir às torturas.
 - Eles nunca foram crianças. Eles já nasceram no mundo adulto. E mais; eles sobreviveram a ele até hoje! E agora, pela primeira vez, estão ganhando um sentido de unidade. Um sentido que torturador algum conseguirá tirar deles.
 - ...

 Fazia sentido.”
Raphael Dracon


 Engraçado, esse livro conta uma história épica, que era pra ser longe da nossa realidade. Talvez, por ser um escritor brasileiro e jovem, eu consegui enxergar nesse capítulo, principalmente, uma proximidade com a sociedade brasileira. Não é preciso saber da história do livro para entender onde eu quero chegar.
 Tentem entender meu raciocínio: Enxerguei as crianças, que o Snail e a Gabbiani comentam, como dois opostos. Primeiro, enxerguei como os políticos, que, dentro de partidos, podem sim ser moldados para “roubar” da sociedade (não digo de algum partido específico, até porque eu não entendo disso, mas essa é a minha visão e não estou generalizando). Depois consegui enxergar também como a sociedade que cresce descrente da política, não encontrando um lugar para se apoiar e forças para mudar tudo isso.
 Outra coisa que imaginei foi o Snail como algum jovem que queira mudar a sua realidade e, quem sabe, a realidade de milhares de pessoas, mas, para que isso possa se concretizar, ele precisaria fazer alguma coisa ruim. Eu sei que muitas pessoas querem “mudar o mundo”, mas poucas têm coragem o suficiente pra tomar atitude, ou, quem sabe, “recrutar” pessoas interessadas em mudar essa realidade.
 Bom, essas citações foram do segundo livro da coleção. No começo achei bem sem graça, mas agora eu to percebendo quão inteligente foram as comparações que ele fez. Aliás, ele pega histórias clássicas, que estamos acostumados a ouvir desde pequenos, e as “atualizam”, encaixando no livro dele. É um livro bem inteligente, recomendo :D

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