quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Sonho de Abril


Procurava alguém com quem pudesse dividir as agonias, que, convenhamos, não eram poucas. Não era pra menos, trabalhara desde criança, vendera sua infância por um prato de comida.
A vida nem sempre é como queremos, mas isso nunca foi motivo para desanimá-la. Mas um dia tudo mudou...
Teria sido um dia normal no lixão, tirando a visita do homem mais rico da cidade. Ele perguntou sobre sua vida e foi justamente isso que lhe chamara mais atenção nele: sua preocupação com uma desconhecida, ainda mais uma catadora de reciclável. Mal sabia ela que ele sabia muito mais da sua vida do que ela imaginava.
As visitas tornaram-se freqüentes, surgindo daí uma bela amizade. Para ela era ótimo ter alguém que se preocupasse com seus problemas, um apoio moral.
Com o tempo a amizade virou amor. Ele se declarou, mas ela tinha medo de dizer que sentia o mesmo, dando a parecer que era interesse. Esse foi o único segredo entre eles. Mas ela era feliz.
Um dia ele resolveu levar ela ao médico, já que ela nunca tinha ido e estava com fortes dores de cabeça. Fora neste momento em que o destino de suas vidas estava em jogo.
Descobriram que ela estava com câncer no cérebro e que só tinha um mês de vida. Ele resolveu, então, realizar o sonho da vida dela: conhecer o mar. Mas ele não ia lhe mostrar qualquer mar, seria o seu mar. Poucos sabiam que ele tinha uma ilha no sul da África e foi pra lá que ele a levou.
Graças a sua influência no país conseguiu que o visto dela saísse em duas semanas e na terceira semana de abril embarcaram.
Os dias dela estavam se acabando e ele fazia de tudo para que ela morresse feliz, e conseguiu. Mal sabia ele que sua presença já era motivo de grande felicidade para ela.
Finalmente ela conheceu o mar e junto com ele a certeza de que morreria logo. Resolveu então se abrir.
- Preciso lhe contar uma coisa, só me escute. Não tenho palavras para demonstrar minha gratidão por tudo o que você fez por mim. Eu te amo e sempre te amarei – disse ela antes de seu último suspiro.
Morreu, mas morreu feliz e junto de seu amado.

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